Bruxaria Solitária ou Hedge Witch?

07:00

Bom, muito se fala sobre ''Bruxaria Solitária'' e  tudo mais. Porém o que
são, quem são, no que acreditam, o que seguem, quais os ritos... que estas pessoas seguem, tem ou fazem?  Neste texto, procuro esclarecer um pouco sobre este tema.

A história da Bruxaria Solitária, iniciou-se na década de 70. Onde apoiados na diversa literatura que autores Gardnerianos e Alexandrinos, várias pessoas sem a devida iniciação nestas tradições buscavam se tornar bruxos válidos e praticarem a bruxaria. Após um tempo, autores como Raymond Buckland, real iniciado na tradição Gardneriana, entre outros, começaram a passar instruções e fazer publicações sobre ritos e formas de trabalhos que seriam seguros para dar inicio a prática da bruxaria sem a necessidade de ser iniciado em um coven. Ou seja, uma nova leva de bruxos começava a nascer a partir daí, que seriam os bruxos que praticavam de maneira solitária e sem a necessidade de uma iniciação formal. Esses autores afirmavam ser possível uma prática de vivencia dos ritos e mistérios wiccanianos de forma solitária. Enfatizando bastante a auto-exploração e a livre responsabilidade sobre seus próprios atos.
Doreen Valiente, Marian Green, Raymond Buckland (já citado) e Stwart Farrar aconselhavam a todos aqueles interessados nos ritos e cultos wiccanianos, que buscassem por informações e que  praticassem, por que a experiência espiritual, e a vivência continua dos ritos são as chaves físicas para os mistérios, e que o conhecimento real depende muito mais da persistência do que de títulos iniciáticos, ou ritos formais de aceitação em um grupo/coven.
Eu particularmente acredito, e concordo com este ponto de vista. Pois o caminho espiritual é algo evolutivo e único. Cada um vai vivenciar sua trajetória espiritual de uma forma única, e em seu próprio tempo.
Foi nesta época(70's), que lá fora (no exterior), iniciou-se a famosa discussão sobre a validade da auto-iniciação dentro do wicca. De um lado os tradicionalistas defendendo que não seriam wiccanianos aqueles que não tivessem a linhagem iniciática que chegaria até Gardner, e de outro os que defendiam que a iniciação era algo muito mais que um rito e um título recebido. Hoje em dia esse assunto aqui no Brasil ainda rende muita polêmica. Acho desnecessário, pois eu vejo da seguinte forma: Se você estuda, se dedica mesmo aos estudos e práticas wiccans, com o tempo, você vai descobrindo certos mistérios e chaves dos ritos por si só. Claro que pode demorar mais tempo ou menos tempo. Mas uma hora você vai começar a entender o por que de tudo. Não sou a favor de "rituais de auto iniciação", a famosa receitinha que se vê na internet e em alguns livros.  Pra mim aquilo não passa de um rito onde você afirma pra si mesmo que quer começar a estudar a religião (no caso a Wicca), e se pré-dispõe a aprender por si só os mistérios envolvidos nos cultos e ritos. O rito de iniciação, ele basicamente (e porcamente resumido), não passa de um momento onde você é apresentado aos coveners, e os Alto Sacerdote e Alto Sacerdotisa mostram que você realmente já sabe o que que tem o conhecimento necessário para praticar os ritos de determinada tradição.
Na "auto iniciação" você não teria ninguém para dar o aval de "Oh, este já é um sábio". Pois não haveria um treinamento formal e alguém o qual atestasse seus conhecimentos. No caminho solitário é assim. Você não tem alguém para provar que você já sabe o suficiente para se tornar um "iniciado". Mas também não tem ninguém pra te reprovar e dizer que não é. O único que tem que saber disso é você, e a resposta vem através das práticas. Um solitário pode passar 10 anos estudando a finco, lendo tudo, debatendo, pesquisando, mas e na prática? O que ele sabe? o que os buscadores do Caminho solitário precisam saber é que, 50% é teoria e 50% é prática. Não há maneira alguma de você somente estudar sem praticar, ou praticar tudo que lê mas sem se aprofundar. No caminho solitário a prática e os estudos levam a perfeição.
Então creio que o termo correto para esses ritos ou este momento especial seria a "auto-dedicação", o que na vida de um bruxo solitário dura basicamente sua vida toda, até que o mesmo queira, ou não, entrar em um coven, aí ocorreria de fato a iniciação, porém a iniciação naquela determinada tradição.

A primeira tradição a aceitar e reconhecer válidos os bruxos solitários auto iniciados foi a Seax Wicca, uma tradição criada em 1973 por Raymond Buckland, onde o postulante a iniciado tem a liberdade para conhecer os ritos através do B.O.S. da tradição, onde estudaria, praticaria e se dedicaria, e após determinado prazo seria considerado auto-iniciado, e reconhecido dentro da tradição Seax como um bruxo, assim como os iniciados de maneira formal.
Raymond Buckland foi o percursor e maior divulgador na década de 70 sobre as formas de prática de Wicca Solitária, e seus escritos até hoje são de extrema importância para aqueles que desejam se tornar bruxos solitários. Imagino que nem mesmo o próprio não tinha noção de como suas ideias seriam bem aceitas pela população geral, e levaria a Wicca a alcançar o status atual de religião que mais cresce ao redor do mundo. Apesar de que bruxos solitários não iniciados em covens tradicionais não formais ainda não são vistos como verdadeiramente wiccanianos, os mesmos são considerados bruxos e aceitos em igualdade na comunidade pagã. Para quem quer conhecer o autor, e adentrar os caminhos da prática solitária recomendo os títulos: Witchcraft from the Inside, Tree the Complete Book of Saxon Witchcraft, Buckland's Book of Saxon Witchcraft, e The Witch Book. Não tenho conhecimento se tais obras possam ser disponibilizadas em português. 
Após os escritos de buckland, Doreen Valiente em Feitiçaria a Tradição Renovada e Natural Witchcraft expôs um pouco sobre como a bruxaria poderia ser explorada de forma solitária, assim como alguns outros autores importantes da época. E assim, a bruxaria solitária foi sendo praticada por várias pessoas, até que chegamos ao segundo "boom" de autores que faziam afirmações e ensinavam como praticar a Arte de maneira solitária ou sem a necessidade de uma iniciação formal.


Scott Cunningham
No início dos anos 90, a linha que tinha sido traçada durante duas décadas com a autonomia da prática, concretizou-se na defesa da prática solitária onde dois autores se destacavam: Scott Cunningham e Rae Beth. Essa prática Solitária baseava-se em ritos baseados na carga emocional adicionados a alguns ritos de base wiccan. Sua ética era pautada em um texto criado por Doreen Valiente chamado "Wiccan Rede", e seus ritos eram dados de uma forma mais teatralizada dos ritos wiccans. E dessa prática Solitária defendida por eles, saiu uma tendência de uma experiência mais profunda e pautada com bases na Bruxaria Tradicional, que é o conceito: Hedgewitch. No conceito Hedgewitch, a maior parte dos autores se opunham ao conceito superficial da prática Solitária, que muito foi difundido por Cunningham e Ravenwolf. O conceito Hedgewitch tem suas origens na Bruxaria Pré-Gardneriana. Quatro elementos formam a base do seu conceito, e que o diferenciam das práticas Solitária teatralizadas divulgadas por Cunningham. Que são eles:
wiccan

1 . A ênfase na ausência de uma Iniciação formal, mas realçando que seria uma Iniciação de índole xamânica, visionária ou espiritual. Ou seja, o "Iniciado", passaria ele mesmo por uma trajetória espiritual onde ele teria de provar a si mesmo que realmente tem o conhecimento necessário para se "nominar" um "bruxo".

2 . O regresso às fontes próprias da Bruxaria visionária como reação ao elitismo e fundamentalismo Gardneriano, o qual muitos covens tradicionais estavam congelados.

3 . O conceito do experimentalismo sem mestre, assim como Austin Osman Spare havia advogado, uma ética antinomianista e em uma experiência visionária.

4 . A ética de recusa a todas as normas, a não ser a sua própria.



Já o conceito de prática Solitária difundido Cunningham, Ravenwolf, e cia são:



1 . A imitação dos rituais do Wicca, sem a necessidade de uma iniciação corporativa.

2 .  A valorização do "Do It Yourself" em uma praxis que se espelhava no cenário musical do momento. Ou seja, a liberdade, a paz, o amor, a bondade... aquela vibe bem "hipponga".

3 .  O uso de placebos rituais tipo Bruxaria de Cozinha, ou de uma  "Bruxa Dona de Casa", tipo naquele filme "Da Magia à Sedução". Aquela coisa que é só fazer uns temperinhos e falar palavras legais em latin e boom. A magia acontece.

4 . Uma ética de aspécto civil que tem suas origens na máxima de São Agostinho, que aparece no fim da década de 60 sob a pena de Doreen Valiente, com o título de "Wiccan Rede", onde diz "Se nenhum mal fizer, faça o que quiser" (em uma tradução aberta).

Basicamente a prática Solitária surgiu desta forma. E vem até hoje evoluindo cada vez mais, e vem aumentando Esteja você em grandes cidades, ou numa roça nos cafundós do Judas, se você está sozinho porém deseja conhecer e praticar os segredos da Grande Arte, busque. Leia, estude, pratique, anote, observe os resultados, leia mais, estude mais, pratique mais, e vai indo. "A prática leva a perfeição" já ouviu esta frase? Então, é neste caso onde ela se aplica.

Espero que tenham gostado deste artigo, bons estudos e pratiquem bastante.
Abraços, Foster Alan.

Bibliografia usada como base para este artigo foi:




Natural Magic - Doreen Valiente, 1975
Feitiçaria:A Tradição Renovada - Doreen Valiente e Evan John Jones, 1992
Tree the Complete Book of Saxon Witchcraft - Raymond Buckland, 1974
Witchcraft from the Inside - Raymond Buckland, 1971
Buckland's Complete Book of Witchcraft - Raymond Buckland, 1986
A Bruxa Solitária - Lições a aprendizes da Bruxaria - Rae Beth, 1990
Guia essêncial da Bruxa Solitária - Scott Cunningham, 1997
Crafting The Art Of Magick. Book 1: A History of Modern Witchcraft, 1939 - 1964 - Aidan A. Kelly, 1991
O Poder da Bruxa - Laurie Cabot, 1989
Celebrate the earth: a year of holidays in the pagan tradition - Laurie Cabot, 1994

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